Porque é sabido de todos que historicamente falando na sociedade é aceito o homem no papel de provedor e o da mulher de cuidadora ou coisa parecida, sendo assim os homens entraram no mercado de trabalho e empreenderam primeiro.
No mercado de trabalho as mulheres se desenvolveram principalmente após a segunda guerra mundial, quando por falta de homens, esses estavam em guerra, se viram obrigadas a sair de casa para gerar receita para prover a família. Ao fim da guerra os homens que retornaram não conseguiram convencer as mulheres a deixar de trabalhar, até mesmo no cenário não faria mais sentido a mulher ficas somente em casa. Daí por diante abriu se um caminho sem volta.
Já o Empreendedorismo sempre foi um caminho fácil para a mulher, já que entre os motivos para empreender consta estar perto dos filhos, trabalhar de casa ou ser arrimo de família. Diferente do homem que se motiva geralmente somente pelo sustento da família e de si mesmo ou autorrealização.
No mercado contábil, um universo onde as mulheres já são maioria, o empreendedorismo feminino tem um papel fundamental nessa ciência social. Onde 69% das vagas do mercado de trabalho e 50% cadeiras das faculdades e universidades de onde saem os graduados são ocupadas pelas mulheres a repercussão não poderia ser diferente ao empreender. Lembrando que nem sempre foi assim, contabilidade era uma seara, como tantas outras, masculina. No ano de 2017 tivemos 8 representantes femininas na direção do Órgão de classe regulador da profissão – CRC pelo Brasil afora. Já a muito tempo a mulher teve destaque na profissão, porém há pouco tempo que ela vem conseguindo se destacar nas lideranças, onde o espaço foi sendo conquistado e aberto aos poucos, com ações que apesar de boa vontade, eram tímidas e repletas de clichês. Até pela falta de prática de reconhecer a mulher como uma profissional com capacidades igualitárias, muitas dessas ações, escorregavam ao mencionar-nos como “frágeis” e “sensíveis”, que no fundo significavam que elas se importavam apenas com bobagens e choravam facilmente.
Mas visivelmente isso vem mudando, a projeção que diversas profissionais vêm ganhando, além de reforçar a autoestima das que se movem em direção a liderança, deixa um rastro de confiança para quem assiste a esses movimentos. Isso desemboca nesse cenário tão gratificante e marcado pela presença de competentes e brilhantes profissionais do sexo feminino.
Muitas mulheres e homens temem o assunto feminismo, por não querer parecer radical ou mesmo não se identificar com manifestações já marcadas e negativadas em sociedade nesse quesito, mas é importante frisar que sem essas ações feministas do passado e muitas mulheres talvez não tivessem sequer a chance de cursar uma faculdade ou se desenvolver profissionalmente e que a busca do equilíbrio está em reconhecer as conquistas e a oportunidade de fazer valer cada uma delas. Sendo assim cada mulher que estuda, busca seus sonhos e se dedica ao que quer como profissão, honra um ato feminista e mantém o caminho aberto as próximas gerações.
Então a ideia de igualdade é muita legal, mas não totalmente possível ainda, isso porque esse espaço ainda está sendo conquistado e não simplesmente sendo continuado. Poderemos falar em igualdade sim, poderemos falar em ser desnecessário espaços e comunicações específicas para a mulher quando o mundo não mais tiver essas discrepâncias, tais como salários desiguais, menções das coxas e bumbum da mulher como ferramenta de propaganda e marketing, como porta vozes em partes iguais nas lideranças do mercado, quantidade de palestrantes dos dois sexos, piadas que sugerem que mulher dirige mal, e não mais se falar em “ajuda” dos homens em casa e sim divisão equivalente das tarefas. Enquanto esse mundo ainda estiver nas idealizações, temos que lembrar isso a cada ser, que por conta dos condicionamentos repete uma dessas cenas sem nem pensar se faz sentido ou não, simplesmente porque está marcado em sua mente que o mundo funciona assim mesmo.
Como esse cenário de plena igualdade ainda não se instalou, é comum ver a mulher tentando provar a todos que é capaz, é competente, da conta do seu próprio negócio, sem perder a mão nas tarefas que “pertencem” a ela, tais como maternidade, serviços domésticos entre outros clichês, isso gera uma cobrança muito maior da parte dela mesmo e do mercado em geral, onde as falhas de uma empreendedora são muito mais valorizadas do que se fosse um homem. Um homem que falha em seu empreendimento teve má sorte ou um mal momento, enquanto uma mulher provavelmente teria a sua visão de negócios questionada por ser mulher.
Vale a pena mencionar que as mulheres nesse caminho de empoderamento e entendimento de que talvez não tivessem as condições adequadas para crescimento e desenvolvimento numa empresa, buscaram seus próprios caminhos, empreendendo. E claro cada vez que as mulheres empreendem ou tem sucesso vai se criando um espaço onde cada vez mais fortalecidas elas inspiram e se inspiram umas nas outras num círculo vicioso.
Outra curiosidade que não passa desapercebida, é a tal da sororidade, palavra difícil, pouco usada que demonstra uma prática comum e bem conhecida entre as mulheres, que é a de auto apoio e ajuda mútua em momentos de dificuldade. Toda mulher que já passou por um momento difícil e teve que reconstruir uma vida, certamente em 99% dos casos contou com a ajuda de outra mulher, o que leva por água abaixo um grande mito que mulher concorre entre si, não se ajuda e são muito críticas entre si. Somos capazes de listar milhares de casos de mulheres empoderando ou apoiando uma as outras. No Clube de Contadoras houve oportunidade de participar de um projeto muito bem embasado chamado 10.000 Mulheres, onde mulheres de países emergentes eram empoderadas com conhecimento e apoio ao empreendedorismo, porque as pesquisas encomendadas pelo Goldman Sachs mostravam que mulheres que enriquecem a si mesma, enriquecem a sua comunidade e a sua volta. Esse projeto demonstra isso a sororidade, a capacidade de irmandade, fraternidade e apoio. Quando você ouvir ou pensar que mulher não se ajuda, lembre se disso e olhe melhor para ver se isso faz sentido, porque o mercado contábil está repleto de mulheres poderosas, generosas e com muito conhecimento técnico e interpessoal.